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domingo, 9 de janeiro de 2011

Equador, uma avenida de vulcões


Por Núria Segura
Da EFE

Você pode imaginar como é viver perto de um vulcão ou ter sua casa em uma cratera? Este é o caso de centenas de pequenos agricultores que se assentaram nas entranhas do Pululahua, a cerca de 50 quilômetros de Quito, capital do Equador, onde exploram a fertilidade extraordinária das terras vulcânicas no leito de um colosso adormecido.

O que parece ser tão surpreendente não é nada raro no Equador, cuja área central é uma longa avenida de vulcões, segundo a denominou o cientista alemão Alexander Von Humboldt quando perambulou por suas encostas e seus despenhadeiros no começo do século XIX.

Quito fica no meio desse grande vale e, a 2.800 metros de altura, é uma das capitais mais elevadas do mundo.

Dos shoppings e igrejas podem ser vistos "los nevados", como popularmente são conhecidos os vulcões, que apesar de estarem a poucos quilômetros da Linha do Equador mantêm camadas brancas, pois alguns deles superam os 5.000 metros de altitude.

O Equador está entre duas placas tectônicas e em apenas 120 quilômetros de largura se concentra a maioria dos vulcões do país, principalmente no centro, ou seja, nas imediações da capital, explicou o diretor do Instituto Geofísico do Equador, Hugo Yepes.

"Não é que Quito esteja envolvida por vulcões, mas os moradores locais escolheram se assentar no meio de vulcões", disse Yepes com um sorriso nos lábios.

As regiões vulcânicas são mais produtivas, por isso que os primeiros colonizadores da capital andina poderiam ter achado nesta região uma zona próspera para suas vidas, explicou o cientista.

Mas tanto antes como agora, os habitantes do vale vivem com o perigo potencial de erupções. O Instituto envia diariamente relatórios sobre a atividade dos vulcões, especialmente do Tungurahua, a 130 quilômetros ao sul da capital, que entrou em 1999 em processo eruptivo no qual intercala períodos de alta atividade com outros de relativa calma.

Em 2006 causou pânico em seus arredores quando cobriu com uma camada de cinza de até dois centímetros de espessura o povoado de Pondoa, que fica a noroeste do vulcão.

O próprio Pululahua, o vulcão da cratera habitado, poderia despertar. "O Pululahua é um vulcão muito explosivo que não só afetaria os que vivem dentro da cratera, mas poderia impactar milhares de pessoas que vivem perto do local", disse Yepes.

Ao mesmo tempo, os vulcões são um dos grandes recursos turísticos do Equador, que atraem a cada ano tanto escaladores profissionais como pessoas interessadas em realizar passeios a cavalo, tours em veículos 4X4 e rapel, para depois descansar em balneários de águas termais, aquecidas pelo magma.

Fernando Tobar, gerente da companhia Tobar Expedition, destacou que a atividade mais procurada pelos turistas continua sendo as clássicas caminhadas até os cumes dos vulcões.

"As pessoas gostam de correr o risco e a aventura de subir caminhando o vulcão", disse.

O maior prêmio é o Chimborazo, que com 6.384 de altura é o pico mais alto do país e o ponto mais distante do centro da Terra, visto que o planeta é abaloado no equador.

Karl Heinz, diretor da empresa turística Paypa Hausi Tours, destaca que "90% dos visitantes escolhem como destino o Cotopaxi", que é a terceira montanha mais alta do mundo, apesar deste vulcão, de 5.897 metros de altura, estar ativo.

Ele é popular porque pode ser visitado em qualquer época do ano, visto que no Equador a temperatura quase não varia.

Além disso, é de fácil acesso e conta com infraestrutura turística, ou seja, é um tour apto para todo mundo, desde o simples turista até o montanhista mais experiente, embora, obviamente, nem todos estejam preparados para chegar a um cume onde se nota a escassez de oxigênio.

Em todo caso, nem o escalador experiente nem o turista ocasional resistem às águas termais, onde as piscinas de enxofre e de água quente permitem relaxar enquanto se contempla uma natureza de alta montanha equatorial idílica.

Um desses locais fica nas margens do rio Papallacta, que recebe suas águas dos montes Cayambe, Antisana e Sarahurco. A cerca de 70 quilômetros de Quito, o balneário conta com nove piscinas termais e três de água fria, e é o local predileto dos quitenhos para esquecer as contas a pagar e a lista de coisas a fazer.

Consciente do atrativo da "avenida" central do país, o Governo reabilitou um trem que percorre cerca de 70 quilômetros de distância entre Quito e Latacunga.

Sua máquina à vapor cruza a cordilheira a cerca de 20 km/h por um caminho com vistas que só são desfrutadas por quem viaja com calma sobre os trilhos.

Utilizado até o começo do século 20, o trem caiu em desuso e ficou relegado às histórias que os mais velhos contavam, mas agora os jovens e turistas que queiram ir a Latacunga - uma cidade perto do vulcão Cotopaxi - também podem reviver a experiência

Os viajantes deverão levar em conta que esse majestoso vulcão encerra uma potência enorme, que poderia libertar a qualquer momento.

María Cristina Moreno, responsável de comunicação de Marola, a comarca mais próxima ao Cotopaxi, explicou que o município realiza oficinas e simulacros para que os cidadãos saibam como atuar em caso de uma erupção.

Yepes diz que uma erupção do Cotopaxi "poderia causar uma grande tragédia", porque neste vulcão nascem rios que vão parar nos vales de Chillos e Tumbaco, perto de Quito.

A lava ou a cinza poderiam descer pelos leitos destruindo suas margens, que são densamente povoadas.

Esse risco é o preço pago pelos que vivem no coração equatorial dos Andes, que também lhes oferece grandes opções de turismo de aventura e vistas únicas no mundo, na porta de casa.

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